Os 30 anos de carreira celebrados este ano eram uma data, um marco inimaginável quando assumiu definitivamente a música como profissão ou, pelo contrário, os seus sonhos sempre o projectaram para um grande futuro?
Nesta profissão em particular, ninguém pode programar, ninguém pode antever que uma carreira vai durar 20 ou 30 ou, até mesmo, cinco anos… O futuro é uma questão sempre em aberto. Mas é claro, quanto mais o tempo passa, mais fácil será acreditar que podemos continuar e permanecer até ao fim das nossas vidas. Ainda assim, essa é tão-só uma possibilidade e nada mais do que isso. Nunca por nunca poderá ser um objectivo, uma meta… Não se pode pensar dessa maneira. Eu, pelo menos, nunca pensei muito nisso, nunca fez parte das minhas preocupações.
Que memórias, sensações, sentimentos destacaria ao passar em revista o caminho percorrido até aqui?
Destacaria, sem hesitações, o início de tudo, quando se sonha, quando se acredita, quando se luta com todas as forças para que seja possível. E esse tempo é tão profundo, tão intenso que fica em nós para sempre. Depois, entramos noutra fase, noutra dimensão, em que as coisas vão acontecendo naturalmente, com acontecimentos mais fortes e marcantes do que outros, sendo difícil escolher aqueles que se sobrepõem em razão disto ou daquilo… Bem vistas as coisas, a nossa vida, a nossa história é feita de tantos momentos, alguns com significado especial que, às vezes, nem sabemos explicar… é algo que nos transcende. Mas se tiver mesmo de escolher um ou outro momento, um ou outro episódio pela sua importância em termos de impacto junto do público, da proximidade das pessoas e do seu reconhecimento pelo meu trabalho, provavelmente será justo destacar vários concertos memoráveis no Pavilhão Atlântico e, na mesma linha, o concerto na Avenida da Liberdade para 500 mil pessoas…
Qual é a mensagem principal que a sua imensa legião de fãs pode esperar da tour comemorativa dos 30 anos?
O que os meus fãs podem esperar e eu também – pois são três décadas de um público a acompanhar um artista e vice-versa – são concertos inesquecíveis onde, juntos, iremos viajar por 30 anos de canções, numa espécie de medley de toda a minha carreira. Será uma viagem no tempo, para recordar e celebrar a vida.
A questão em torno da acusação de plágio, que já mereceu da sua parte vários comentários no espaço meditático, fê-lo, em algum momento, repensar esta tour?
Claro que não. Quando somos mediatizados, até por vezes contra nossa vontade, sabemos bem que isso faz parte. Não podemos querer o melhor dos dois mundos. Se queremos o sucesso, temos também de receber o reverso da medalha. Uma carreira – para mais, com tantos anos – tem inevitavelmente um pouco de tudo. Há momentos em que se é atacado, em que há uma devassa da vida privada, e assim acontece independentemente da profissão. A vida em si é um desafio constante, uma luta permanente – nunca tudo é cor-de-rosa. Seja como for, temos de continuar o nosso caminho, seguir em frente.
Entretanto, já anunciou que após esta série de concertos, no final do ano, vai entrar num período sabático. Essa retirada temporária que vem desejando há muito tempo mas que, por motivos diversos, não foi possível acontecer mais cedo, tem duração pré-estabelecida ou, depois, logo se vê – e, já agora, o que vai fazer durante esse tempo longe dos palcos?
Neste momento não estou a pensar nisso; estou, isso sim, muito focado em todos os projectos que tenho em mãos para este ano – há um livro que irá ser lançado em breve, um CD/DVD de um concerto acústico a editar ainda este ano, há uma tournée, os concertos de encerramento nos dias 10 de Novembro, no Multiusos de Guimarães, e 17 de Novembro, no Altice Arena… Há muita coisa, muito trabalho no qual estou cem por cento concentrado. Depois, logo se vê. O que irei fazer na minha pausa, neste momento não faço ideia. A partir de 18 de novembro, então sim, vou pensar nisso.
O governo francês condecorou-o, em 2016, com a medalha de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras. E o reconhecimento português, porque tarda em sua opinião?
Na verdade, o reconhecimento eu já o tenho; já o tenho do público português, tanto daquelas pessoas que gostam do meu trabalho e me acompanham de uma forma fantástica, como das pessoas que, apesar de não apreciarem as minhas canções, me respeitam e me acarinham. E esse é o reconhecimento supremo, não há maior, nada o supera. Foi justamente para esse reconhecimento que eu tenho trabalhado e lutado uma vida inteira.
Os milhões de discos vendidos, os concertos lotados em Portugal e no estrangeiro – tudo isso continuará a ser a melhor recompensa e a maior das motivações?
Exactamente, não há recompensa maior que uma sala inteira a aplaudir-nos. Esse é o prémio.
Trinta anos depois, que mensagem daria o cidadão António Antunes ao artista Tony Carreira?
Provavelmente recomendaria que não mudasse; bem vistas coisas e sem querer ser imodesto, acho que não estou assim tão mal…