1 de Julho 2021
Estrela D' Alba
Alimentação, Nutrição e Saúde. Três palavras que designam uma das categorias do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola, em cuja 7. ª edição foi distinguido o ALBA. Um projecto que mobilizou as competências de Lorenzo Pastrana, Miguel Cerqueira e Pablo Fuciños, três investigadores do Laboratório Internacional de Nanotecnologia, em Braga, que se uniram para formar a startup Suevia Foods. Missão: “melhorar a indústria alimentar e aumentar a confiança dos consumidores no sistema"
A ideia da ALBA nasceu há dois anos, com o anúncio de que as autoridades francesas tencionavam proibir, temporariamente, o uso de dióxido de titânio (TiO2) na indústria alimentar devido a preocupações baseadas em vários estudos científicos que ligam aquele elemento aos riscos para a saúde. A notícia causou grande preocupação entre os consumidores e na indústria alimentar, dado que o TiO2 (E-171) é utilizado em milhares de alimentos como agente branqueador e opacificante [que confere opacidade], muitos deles destinados a crianças. Foi então que os três promotores da ideia, Lorenzo Pastrana, Miguel Cerqueira e Pablo Fuciños, investigadores do Laboratório Internacional de Nanotecnologia (INL) – instalado em Braga e que elege a cooperação da ciência ibérica – pensaram que o problema se perfilava como oportunidade. Ou seja, agregando e potenciando as suas diferentes competências, move-os o pensamento convergente em contribuir para melhorar a indústria alimentar e aumentar a confiança dos consumidores no sistema. “A mudança no quadro legislativo (na altura apenas em França) ofereceu-nos uma janela de oportunidade para o fazermos”, revelam.
A partir daí, lançaram mãos à obra trabalhando em aturada investigação que viria a dar suporte, argumentos e evidência à apresentação do conceito ALBA. Um conceito desdobrado em dois programas empresariais a nível europeu, o JumpStarter e o Seedbed, no âmbito do EIT – European Institute of Innovation and Technology. Depois de competir com equipas representativas de mais de 10 países de toda a Europa, o ALBA fez o pleno em ambos os programas na categoria de Alimentação. “Os prémios obtidos permitiram-nos amadurecer a ideia. Iniciámos um processo de estudo das necessidades específicas das indústrias alimentares; entrevistámos mais de 30 empresas; descobrimos quais eram as limitações das actuais alternativas ao TiO2 nas diferentes categorias de alimentos e qual o caminho que tínhamos de seguir para ultrapassar essas limitações”, clarificam (palavra que até soa redundante perante o nome do projecto), passo a passo, o que foi dando consistência à ideia subjacente ao ALBA.
Presentemente, há uma corrida para encontrar o substituto ideal do TiO2 nos alimentos. No entanto, esta não é uma tarefa fácil. Nenhum dos produtos actuais tem todos os atributos do TiO2 (extremamente branco, barato, estável contra a humidade, altas temperaturas e diferentes valores de pH). Ora, este é, objectivamente, o propósito do ALBA. Vejamos. “Para materializar o nosso objectivo, em Junho de 2020, criámos a 2BNanoFoods, uma startup que nasceu como spin-out do INL, onde estamos incubados. Através da marca Suevia Foods, esta nossa jovem empresa (www.sueviafoods.com) visa revolucionar o mercado alimentar, fornecendo soluções exclusivas e sustentáveis para a indústria alimentar”. Lorenzo Pastrana, Miguel Cerqueira e Pablo Fuciños, compartilhando desta visão, têm já em desenvolvimento o ALBA, focalizados na obtenção de um produto com propriedades tecnológicas de vanguarda, mas – sublinham bem as palavras – sempre com a segurança do consumidor como prioridade absoluta. Neste contexto, “apresentámos o nosso projecto à 7.ª edição do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola, que, também ele, em 2020, validou a nossa proposta”. Assim, após um ano muito complicado desde a chegada da pandemia da COVID-19, o ALBA faz questão de retomar o impulso para trazer um produto ao mercado.
Nos últimos meses, a equipa foi reforçada através da contratação de uma investigadora para trabalhar a tempo inteiro no projecto e, entretanto, “optimizámos várias formulações baseadas em biopolímeros e ingredientes alimentares tradicionais”. Neste momento, adiantam, “temos um produto com propriedades promissoras em termos de estabilidade em ambientes com alto teor de água e baixo pH (características comuns a muitos alimentos) e estamos a melhorar a estabilidade térmica. Os próximos meses serão a ‘chave’ para o futuro do projecto”. No roadmap do ALBA, o 2.º trimestre de 2021 tem assinalado o surgimento de um produto mínimo viável (MVP), estando programados testes de validação com empresas no sector alimentar. Quanto a um produto comercial, propriamente dito e tangível, as expectativas dos nossos premiados apontam para o início de 2022. Que o ALBA traga, então, luz ao dia, é o nosso desejo. Cá estamos para ver. E voltar a aplaudir.