1 de Janeiro 2022
Chef Carlos Teixeira
Carlos Teixeira, 29 anos, é uma estrela. Em boa verdade, duas... Graças ao jovem chef da Herdade do Esporão, o Alentejo volta a figurar no cotadíssimo Guia francês que distingue e ilumina, com a sua patine de excelência, uma criteriosa selecção de astros da alta gastronomia mundial. Fomos visitar e conversar com o homem de quem se fala, depois de receber a sua primeira Estrela Michelin e mais ainda: a Estrela Verde Michelin, que reconhece as boas práticas sustentáveis e a aposta no produto local.
Nasceu em Lisboa, muitas vezes mudou de casa, até que um dia veio a fixar-se em Alenquer, onde conheceu de perto os tons e a estética do pintor João Mário. Não queremos com isto dizer que as artes plásticas sejam a sua vocação. Mas, lembrando Ortega y Gasset, “eu sou eu e a minha circunstância.” Ou seja, a alta gastronomia – mesmo que feita de coisas simples, mas trabalhadas com criatividade e espírito inventivo – é, ela própria, uma arte, como bem demonstra o jovem chef Carlos Teixeira, cujos dotes [artísticos] foram agora duplamente reconhecidos ao mais alto nível, ao ser-lhe atribuído o seu primeiro ‘Óscar’ da gastronomia universal, acompanhado de outra distinção pelas boas práticas sustentáveis, incluindo a preferência por produtos locais: a Estrela Verde Michelin.
Recuperando a entrada do texto, Carlos deixará a bela vila Alenquer para regressar à capital, determinado a abraçar o ensino profissional e formar-se em Cozinha e Pastelaria. Diploma obtido, desde logo sucedem-se as propostas de trabalho. “Ainda era cedo ir por aí, a intuição e a vontade exigiam de mim uma entrega total à valorização das competências e, acima de tudo, do conhecimento”. Num abrir e fechar de olhos, ingressava na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, onde obteve a licenciatura em Produção Alimentar em Restauração. Ainda durante o curso, as férias de Verão eram aproveitadas para saber mais e praticar com os melhores, quase sempre em hotéis de cinco estrelas. Ao rever esses cenários onde a magia, a disciplina e a concentração atingem o absoluto, o chef sorri ao lembrar-se do último estágio, realizado numa das catedrais da alta gastronomia: o Claris Hotel Grand Luxe, em Barcelona. Bem estendida a massa da experimentação junto de referências de topo internacional, a par da formação académica trinchada, comme il faut, começa, então, a carreira profissional. Adquirido o ‘brevet’ para um voo com inúmeras escalas – tal era a sede de não deixar, nunca na vida, de experimentar e aprender – vão somando-se passagens por cozinhas tão diferentes como o Grémio Literário e a Rotas das Sedas, em Lisboa.
Segue-se um tempo novo, com várias oportunidades em Londres, que lhe acrescentaram mundo e um generoso caldo multicultural. Em 2015, o convite de um amigo para integrar a cozinha da Herdade do Esporão* abre-lhe novos horizontes. Veio para braço-direito do chef Pedro Pena Bastos. Os dois anos seguintes serão temperados com muita cumplicidade, revelando-se decisivos. Pedro sai, para abraçar um novo projecto [Ritz Four Seasons Hotel Lisboa] e Carlos fica, para assumir a cozinha do Esporão, em Janeiro de 2018. Aos vinte e cinco anos, sente o receio da grande responsabilidade, a pouco e pouco suavizado pelo sorriso que lhe semicerra o olhar, espelhando a confiança da administração da Casa. “Não podia ter tomado melhor decisão profissional, tem sido um desafio fantástico”, confessa.
A prova mais eloquente de que tudo tem corrido pelo melhor está bem patente na atribuição da Estrela Michelin [que chega no exacto dia desta reportagem] e da Estrela Verde Michelin. A notoriedade consequente mede-se, aos nossos olhos, pelo restaurante pleno de reservas e comensais, vindos de perto e de longe, todos movidos por um palato ávido do bom e inimitável que aqui se prepara, confecciona e serve, tendo o chef Carlos Teixeira ao leme, lado a lado com uma equipa insuperável na horta, na cozinha, nos vinhos, nas mesas. “É a força da marca Esporão”, sintetiza e… sorri este jovem português, que vê o reconhecimento e as ‘estrelas’ como incentivo a quem sempre fez por seguir o seu caminho e as suas ideias, sem replicar nada, nem copiar ninguém. “O meu propósito é muito claro: fazer uma cozinha de excelência, com produtos da terra, inspirado na ideia do Alentejo, onde com pouco se faz muito.” Uma inspiração que, aqui e ali, não esquece as origens, a calorosa e inimitável canja da avó Zulmira e outras coisas simples. Coisas que, pela sua arte, resultam numa simplicidade sofisticada. E, por isso, merecedora do brilho das estrelas. Parabéns, grande chef [Carlos Teixeira]!
*Cliente do CA Alentejo Central