1 de Setembro 2022
À beira de sua excelência A castanha
Inicialmente instalada no centro da aldeia, e presidida por Fernando Matos, figura com visão de futuro e cujo desaparecimento precoce é por todos lembrado, a Coopenela* passou a funcionar, a partir de 1999, na localização actual, nos campos que recortam a entrada de Penela da Beira. O sucesso de uma ideia que continua a crescer e a afirmar-se em Portugal e no Mundo leva-nos ao encontro dos responsáveis da cooperativa para, com eles, desfiarmos os argumentos, as razões, os segredos que explicam este exemplo de empreendedorismo, competitividade internacional e diferenciação do Made in Portugal. “As novas instalações, inauguradas em 2014, e os investimentos que a todo o tempo vimos realizando na modernização e ampliação do equipamento, na perspectiva de aumentar a capacidade de produção em todos os frutos de casca rija com que trabalhamos – além da castanha, a noz, a amêndoa, a alfarroba e a avelã, principalmente –, tudo se tem conjugado para que os nossos associados sejam valorizados e bem renumerados, e assim tem acontecido”, sublinha o presidente do Conselho de Administração da Coopenela, José Ângelo Pinto [à esquerda na foto].
A diversificação do portefólio, imperativa no pensamento estratégico e na acção, é aqui movida pelas parcerias existentes na área do conhecimento e da ciência, através de projectos de investigação desenvolvidos com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e o Instituto Politécnico de Bragança. Na última década, a cooperativa evoluiu para uma estrutura qualificada e diversa, actualmente constituída por 15 pessoas em permanência – incluindo uma equipa de cinco sapadores florestais – número que durante as campanhas pode duplicar. Entretanto, em 2018, a incorporação – por fusão – de uma cooperativa alentejana veio conferir maior expressão nacional à Coopenela – agrega, agora, mais de 1.000 associados – e alargar a sua oferta nos mercados internacionais, em que relevam França, Suíça, Áustria, Alemanha, Estados Unidos e Brasil. Em Portugal, há quatro regiões-chave na produção de castanha, sendo que a Coopenela lidera as variedades que provêm dos concelhos de Penedono, Sernancelhe e Trancoso. Três referências reconhecidas pela denominação de origem protegida Castanha dos Soutos da Lapa DOP, que identifica e valoriza os frutos obtidos a partir do castanheiro (Castanea sativa Mill) das variedades Martaínha e Longal. Mais cotada e representando cerca de 90% do volume de exportações da cooperativa, a Martaínha pede meças à sua rival italiana Marroni.
O que faz dela uma variedade tão especial? “É muito saborosa, tens bons calibres, pela bem, cai no tempo certo, brilha, tem óptimo poder de conservação, é insuperável”, explica o vice-presidente do Conselho de Administração da Coopenela, José Fernando Pereira. O preço da castanha varia em razão da qualidade. Mas, por ser a melhor, a Martaínha é a mais valiosa, naturalmente. A fileira da castanha em Portugal representa uma produção média anual estimada em cerca de 50 mil toneladas. José Ângelo Pinto faz notar que, no ano passado, o nosso país foi o maior produtor europeu, registo em parte justificado pela quebra de produção noutras geografias, o que não deslustra o feito português, até porque “soubemos fazer bem o nosso trabalho”. Acresce que estamos a falar de “uma alavancagem da economia em cerca de 50 milhões de euros. Em zonas rurais, ou seja, território desprotegido, este valor faz muita diferença”. No caso da Coopenela, em 2020, ano complicado por todas as consequências geradas pela pandemia, em que os mercados se retraíram, mesmo assim, as exportações chegaram a 65%. “A nossa castanha é, a um tempo, a melhor do mundo e a mais bem paga do mundo ao agricultor”, enfatiza o presidente da Coopenela. Integrando as associações e os fóruns mais representativos da fileira em Portugal e no plano externo, designadamente a Associação Portuguesa da Castanha (RefCast), o Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos (CNCFS) e a Rede Europeia da Castanha (Eurocastanea), a Coopenela tem como desafio estratégico tornar o produto mais apetecível junto dos jovens. Na certeza de que elas, as castanhas, querem-se quentes e boas. Mas não só. Tem a palavra a criatividade da agro-indústria e dos chefs de cozinha da nova geração.
*Cliente do CA do Vale do Távora e Douro