1 de Janeiro 2022
Medronho Bottle
Produto associado à generosidade das boas terras algarvias, com uma infinidade de apreciadores nas diferentes latitutes e longitudes do Mundo, o medronho reforça a sua relevância. É disso exemplo o projecto Medronho Bottle, nascido no departamento de engenharia alimentar da Universidade do Algarve, e brindado com a “Menção Honrosa ao Jovem Empresário Rural”, na 8.ª edição do Prémio de Empreendedorismo e Inovação CA. Um brinde à ideia de valorização de um fruto especial, através da criação e comercialização de uma bebida inovadora, atractiva e suave…
O projecto é uma ideia do casal Ludovic Gago e Andréa Revez. Dois jovens empresários rurais instalados no Monte Gatão, numa propriedade agrícola do concelho de Mértola, onde há trinta anos a família Gago começou por apostar na criação de gado ovino. Anos a fio sem pensar em medronho… até que um dia, Ludovic – nascido em França, e licenciado em engenharia electrotécnica – decide dar ouvidos ao estímulo da sua mãe, Maria do Carmo, aceitando o chamamento de uma conjuntura de incentivo à formação de jovens agricultores. Descobre, então, que o seu futuro tem de passar precisamente pelo agro-negócio.
O pai, Manuel, anuiu sem hesitações, mas amparando à distância, e o filho deitou-se a pensar no que fazer à oferta de 50 hectares (ha) de terreno, pequena parcela na imensidão da herdade dos seus progenitores e gerações ancestrais. Hoje, 39 ha dão primazia à oliveira, com os restantes 11 ha a ser campo reservado ao medronho e ao colorido mágico das suas bagas bravias.
Tudo começou em 2014. Três anos depois, veio a primeira safra, ainda num registo experimental de produção do Medronho Bottle, rendendo umas simbólicas 11 toneladas (t) de fruto. Agora, os números trepam já os medronheiros com outro balanço, traduzido em 60 t. O produtor dá nota da existência de muitas variáveis que condicionam decisivamente a colheita – sobretudo climáticas (mais pluviosidade, mais generosidade produtiva ou a contrario, naturalmente) – de tal modo que “os medronheiros dão o que a Mãe-Natureza lhes vai permitindo”, a cada ano. Tenhamos presente que se trata de uma planta selvagem. Uma aposta de Ludovic, quase por acaso, fruto da procura da ocupação dos – já sinalizados – 11 ha.
Entretanto, a transformação digital revelou-se essencial. Dada a impossibilidade de realizar acções de campo, as novas ferramentas foram chamadas à divulgação através de webinars e de produção audiovisual. De facto, o formato digital seria decisivo para a demonstração de compatibilidades entre o modo de produção integrado e as técnicas de promoção da biodiversidade. No site do GO PoliMax, conforme o perfil e a atividade do visitante, é ver para crer ou… querer ou os dois verbos em simultâneo (https://poli-max.webnode.pt/). Para os promotores do projecto, “é claro que os resultados alcançados constituem um enorme incentivo à afirmação e ao desenvolvimento da fruticultura nacional, objectivando atingir as metas que a estratégia europeia farm-to-fork impõe ao País”. Para o técnico-operacional do GO PoliMax, “fica comprovada a existência de uma biodiversidade muito interessante nos pomares nacionais, quando comparados com outras realidades europeias”.
Agora, está iminente a criação de um produto de excelência, o que terá suscitado, desde logo no âmbito do CRIA (Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da Universidade do Algarve), o interesse de um investidor business angel, mas que a prudência de Ludovic e Andréa fez descartar essa potencial parceria. O facto é que o Medronho Bottle criou raízes. E o jovem casal continua firme a desbravar terreno, não deixando de medir cada passo, com um fio de prumo sustentado (e sustentável) que os leve, já em 2022, a porto seguro. Aquele em que, com um sorriso caloroso, não hesitamos em compartilhar, ao pôr-do-sol, uma bebida atractiva, inovadora e suave – dado o seu baixo teor alcoólico. Ainda na esfera do CRIA, o Medronho Bottle envolve uma equipa multidisciplinar na concepção de um destilado a cinco graus. “Equipa montada, fórmula encontrada, produto desenvolvido”, como sintetiza o promotor do projecto, que nesta altura percorre várias áreas e competências agregadas em contexto de engenharia alimentar, designadamente “a sensibilidade da bebida, a qualidade industrial de produção, o processamento, as vertentes química e alcoólica, e o tempo de prateleira”.
Entretanto, estamos na fase de ‘afinar’ o produto, incluindo a criação de uma garrafa esteticamente cuidada e apelativa. Actos preparatórios demorados que podem colidir com a necessidade de colocar o produto no mercado, já que o tempo definido com a Universidade do Algarve para o desenvolvimento da bebida é de nove meses. A partir do momento em que a fórmula foi encontrada, sublinha Ludovic Gago, “temos de acelerar, com todas as cautelas, é certo, o processo de produção, para fazermos o primeiro ‘brinde’ ainda este ano”. Quase decididos estão os sabores com que a bebida se apresentará ao consumidor – e neste particular, uma coisa é certa: a laranja do Algarve ‘vai lá estar’. A perfeita sintonia entre dois produtos autóctones e endógenos.
Numa perspectiva imediata, ainda segundo o produtor, há a possibilidade de criar uma linha semi-automática de engarrafamento. O plano de negócio foi desenhado a pensar num produto de excelência, e é exactamente para esse desiderato que se caminha. Há já contactos com as principais marcas da grande distribuição; ou seja, à luz da metáfora, o Sol começa a nascer… Até lá, Ludovic Gago e Andréa Revez olham para a Menção Honrosa concedida pelo Prémio CA, além de um incentivo, como facilitador. Uma porta debruada a bagas de medronho, que se abre de par em par, ampliando a visibilidade de tudo o que tem a ver com o Medronho Bottle e, a partir daí, reforçando a forte ligação ao Crédito Agrícola.